Rodopios
Criado como citadino
Em jardim de Florença
Estigma de nascença
Rodeado de natureza
Flora inteira acesa
De tão excelsa beleza
Congraçava em pureza
Milagre de Aladino
Deleitavam-me as flores
Embebia-me nos odores
Perdia-me nas borboletas
Na pérgola das violetas
Só olhava pras panículas
E nas volúpias frutícolas
Estarreciam-me as toranjas
Com dimensões marmanjas
Escondido nas hortênsias
No auge das vivências
Pendurava-me na mimosa
Inclinada de tão formosa
Mirava as estalagmites
Incrédulo de tais arrebites
Diversas plantas colhia
Às ocultas ao portão vendia
No auge desta euforia
Castrado da mordomia
Pró Amial fui revivescer
Sem ninguém me predizer
De início em agonia
Logo em desarmonia
Depois a sobreviver
Enfim a conviver
Apesar do parque florentino
Dar lugar a quintal liliputiano
Com rejubilação me apercebi
Estar circundado de paraísos
Abrolharam-se palcos de risos
E velozmente me robusteci
Mergulhando nos milheirais
Em miríades de bouças reais
De vastezas sobrenaturais
Fui apreciando os amiais
Também caçando pardais
Fumando barbas de milho
Cheio de medo do pecadilho.
Erguendo choças arborícolas
Fui criando tantas radículas,
Que me tornei num terrícolas
Virou-se a alma d’avesso
Tornou-se tudo opresso
Vi-me cercado de gesso
Vivendo todo possesso
Jamais perdi o setentrião
De toda a minha afeição
Nunca deixei cair a paixão
Abriguei-a fundo no coração
Não obstante a razão dizer não
O decurso do tempo inquietação
Nunca fui tocado pela perdição
Senti sempre alta palpitação
Subitamente algo aconteceu
Foi desembuçado um casaréu
Alguém disse era um mausoléu
Vislumbrei saborido terréu
O casaréu virou um carinho
Esculpido por bom sobrinho
O baldio imutou num apogeu
Apesar de tamanho pigmeu
E nele renasceram sentidos
Aromas e paladares esquecidos
Até descortinamos pirilampos
Por entre as ervas dos campos
Esta pitónica rusticidade
Mitigou a taciturnidade
Diminui a irascibilidade
Inflamou a misticidade
Voltei a sentir-me menino
Qual milagre semidivino
Folgaz como um sanjoanino
Novamente um florentino
Frui lá bons sortilégios
Com muitos privilégios
Mas no voltear da vida
Às vezes ela é malquerida
Convida a outra cantiga
E por quanta vez obriga
A cometer sacrilégio
Entregá-la ao novo régio
Mar 2014
JP
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