quinta-feira, 13 de março de 2014

Rodopios


Rodopios


Criado como citadino
Em jardim de Florença
Estigma de nascença
Rodeado de natureza
Flora inteira acesa
De tão excelsa lindeza
Congraçava em pureza
Milagre de Aladino

Deleitavam-me as flores
Embebia-me nos odores
Perdia-me nas borboletas
Na pérgola das violetas
Só olhava p'ras panículas
E nas volúpias frutícolas
Estarreciam-me as toranjas
Com dimensões marmanjas


Escondido nas hortênsias
No auge das vivências
Pendurava-me na mimosa
Inclinada de tão formosa
Mirava as estalagmites
Incrédulo com tais arrebites
E diversas plantas colhia
Às ocultas ao portão vendia

No auge desta euforia
Castrado da mordomia
Pró Amial fui revivescer
Sem ninguém me predizer
De início em agonia
Depois com desarmonia
Em seguida a sobreviver
Por fim acabei a conviver

Apesar do parque Florenciano
Dar lugar a quintal liliputiano
Com rejubilação me apercebi
Estar circundado de paraísos
Abrolharam-se palcos de risos
E velozmente me robusteci
Mergulhando nos milheirais
Em miríades de bouças reais

De vastezas sobrenaturais
Fui apreciando os amiais
Também caçando pardais
Fumando barbas de milho
Cheio de medo do pecadilho.
Erguendo choças arborícolas
Fui criando tantas radiculas,
Que me tornei num terrícolas


Virou-se a alma d’avesso
Tornou-se tudo opresso
Vi-me cercado de gesso
Vivendo todo possesso
Jamais perdi o setentrião
De toda a minha afeição
Nunca deixei cair a paixão
Abriguei-a fundo no coração


Não obstante a razão dizer não
O decurso do tempo inquietação
Nunca fui tocado pela perdição
Senti sempre alta palpitação
Subitamente algo aconteceu
Foi desembuçado um casaréu
Alguém disse era um mausoléu
Vislumbrei saborido terréu

O casaréu virou um carinho
Esculpido por bom sobrinho
O baldio imutou num apogeu
Apesar de tamanho pigmeu
E nele renasceram sentidos
Aromas e paladares esquecidos
Até descortinamos pirilampos
Por entre as ervas dos campos


Esta pitónica rusticidade
Mitigou a taciturnidade
Diminui a irascibilidade
Inflamou a misticidade
Voltei a sentir-me menino
Qual milagre semidivino
Folgaz como um sanjoanino
Novamente um campesino


Frui lá bons sortilégios
Com muitos privilégios
Mas no voltear da vida
Às vezes ela é malquerida
Convida a tomar pírtiga
E por quanta vez obriga
A cometer sacrilégio
Entregá-la ao novo régio


JP

Mar/2014


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