quarta-feira, 22 de julho de 2015

Nem Tu Senhor



Nem Tu Senhor


Subitamente fez-se escuro
Nas profundezas do imaturo
Sumira-se o regaço do andarilho
Revolteei então no pecadilho
Remoendo o fel fétido do sarilho

Renegado o  latrocínio
Rosnava meu infortúnio
Numa vagueação infindável
Enjeitava o insuportável
De tão amargo e abominável

Muitas vezes Dele duvidei
Outras ocasiões O esqueci
Em tantas O incompreendi
Imensas  não O reconheci
E em quantas mil enraiveci

A luzerna voltou a soltar rama
Alumiou-se a ténue chama
Desvanecida no decurso da trama
Deflagrando atraente clareação
Com elevado amor e exaltação

Mas fundura triste traça
Aquela outrora criança
Pois soldada à sua braça
Ceifando alma chagada
Rilhava herança gelada

Nesse inacabável orfanato
Ao entardecer Ele me fez ver
Apenas se tratou de um hiato
Que se apressou a preencher

A oferta deveras sublime
Calibrada de namoratório
Compreensão e recreatório
Foi-o para o resto do vime

E manteve-me o carácter
Da individualidade ter
E como sempre quis ser
Vivendo cada dia a ter

Foi nestes complexos hipogeus
Ou evidente desígnio de Deus
Ora odiável ora agradável
Que me encontrei adaptável

Sinto-me grato pelas Suas talhas
E consciente que noutras escolhas
Pelas fraquezas das minhas penas
Tudo seria diferente. Farpas apenas

Bendigo Sua custódia
Gabo Sua misericórdia
Louvo Sua sabedoria
Elogio Sua benfeitoria

Mas não consigo entender
Nem sequer esquecer
Tão pouco abranger
Muito menos responder

Jorros de pranto
Vagas de encanto
Ganhando tanto
Perdendo tanto

Alguém me explica?
Nem Tu Meu Senhor?

JP


Jul/2015




quinta-feira, 9 de julho de 2015

A Adega do Engenheiro



Adega Velha/Adega do Engenheiro


Fui ao Alentejo
Perseguir um almejo
O Alqueva conhecer
Do castelo ao amanhecer


Quedei-me maravilhado
Em paisagem de estarrecer
Saí de lá acalorado
De tanto me derreter


Segui bem regalado
Em caminho programado
Entrei no povoado
Já muito esfomeado


Avinhado por amigo
Em Mourão dei comigo
Na tasca do engenheiro
Fruindo bom petisqueiro


Na frescura do botequim
Autentico festim e galarim
Descobri uma decoração
De pitoresca imaginação


Ante duas quistas
A dos excurcionistas
E a dos culinaristas
Voltarei a estas borguistas
Mais depressa pelas alpistas
Do que pelas belas vistas


JP
Jul/2015