domingo, 23 de março de 2014

Gracinda e Abel


Gracinda e Abel

Amigos, amigos de verdade
Somente os da mocidade
Fomos assim inquinados
Constatamos penalizados
Ser uma factual realidade
O resto mera passionalidade

Tal como na gramática
Excepção firma conduta
Vira então apologética
Torna-se mesmo impoluta
E quando assim provede
Alva como a neve já não cede

Complexa no acontecer
É desenhada a compasso
E mesmo até ao entardecer
Avança de passo a passo

Amizade assim traçada
Primeiro é abonecada
De seguida caniçada
Finalmente alicerçada

Alcançada essa ventura
Entrando em nossa vida
Com enorme boaventura
É muito bem acolhida
Ficando assim na berlinda
Uma tal Dona Gracinda

Foi crescente esse cariz
Primeiro riscado a giz
Adiante já com verniz
Culminou bem feliz
Com uma tal matiz
Que confluiu em raiz

Construida esta escora
Afinal em mui boa hora
Adjacente vem como flora
Um Senhor de nome Abel
Com aparência laudel
Mas especioso como o mel

Destes tão fraternos irmãos
Que nos dão sempre as mãos
Mesmo quando não estão sãos
Só lhes devemos agradecer
E muito bem lhes querer
E procurar os merecer

E se tal não fosse bastante
Dizem sempre presente
Em qualquer situação
Mesmo que a condição
Da sua diária labuta
Lhes diga não à batuta

São solidários até mais não
Pois sabem usar o coração
Colocam mesmo a razão
Por detrás de toda a aflição
Perante a mais pequena atrição
Ofertam-nos total dedicação

E com toda esta paixão
Sempre voltada pró cristão
Olvidam o seu remelexo
Optando pelo amplexo
Movidos pelo clamor
Do seu grande amor


AO AMIGO E AO PRÓXIMO

JP


Mar/14

sexta-feira, 14 de março de 2014

Os Amigos do Amial



Os Amigos do Amial


Fui viver pró Amial
Era ainda criancinha
Parecia uma libelinha
Na sua nupcial ladainha
Foi tudo tão lagrimal
Mas muito mais brutal

Mas sei hoje com certeza
Muita da minha afoiteza
Advêm-me da nobreza
Dos amigos de verdade
Que dando-me liberdade
Prenderam-me pra eternidade

Mudança alfim fulcral
Na formação doutrinal
Ao beber do Barbozal
Muita esperteza coloquial
Também seu lado fraternal
Perpetuamente umbilical

Em frente tinha os Sabinos
À primeira vista sem tinos
Do Rui apego descomunal
Da Nanita serenidade total
Do pai exemplos cristalinos
Afinal eram muito ladinos

Destaco os bailes das caves
Onde todos com entraves
Dançávamos músicas suaves
Sonhando novos amores
Conhecendo os sabores
De uns quantos desamores

Inolvido os jogos também
Poker e king como ninguém
Suecadas diárias com festim
Com o doutor a perder sem fim
Também sob a videira americana
Para nós droga como marijuana

Mas também

Do lago dos murmúrios
À via norte dos excitatórios
Caçando borboletas
Às corridas de bicicletas
Nos altos espigais
Ao arroz com pardais
Dos saltos nas obras
Às cabanas em manobras
Do óquei ao bueiro
Com tronco couve inteiro
Das conversas sem fim
Na relva do jardim
Das festas sanjoaninas
À saída das meninas

Algumas palavras porém
Aos que não ligava vintém
Pois mesmo algo espigado
Estava tão embrenhado
Em tomar meu bem-querer
Que não notava sequer
Os mais jovens angustiados
Mirando nossos folgados

Passaram-se várias décadas
Mantemo-nos prazenteiros,
Convivendo dias inteiros
Mergulhando em patuscadas
Renovando as amizades
Reforçando confinidades
Proclamando aos universos
Amigos! São incontroversos.


JP



Mar/2014

quinta-feira, 13 de março de 2014

Rodopios


Rodopios


Criado como citadino
Em jardim de Florença
Estigma de nascença
Rodeado de natureza
Flora inteira acesa
De tão excelsa lindeza
Congraçava em pureza
Milagre de Aladino

Deleitavam-me as flores
Embebia-me nos odores
Perdia-me nas borboletas
Na pérgola das violetas
Só olhava p'ras panículas
E nas volúpias frutícolas
Estarreciam-me as toranjas
Com dimensões marmanjas


Escondido nas hortênsias
No auge das vivências
Pendurava-me na mimosa
Inclinada de tão formosa
Mirava as estalagmites
Incrédulo com tais arrebites
E diversas plantas colhia
Às ocultas ao portão vendia

No auge desta euforia
Castrado da mordomia
Pró Amial fui revivescer
Sem ninguém me predizer
De início em agonia
Depois com desarmonia
Em seguida a sobreviver
Por fim acabei a conviver

Apesar do parque Florenciano
Dar lugar a quintal liliputiano
Com rejubilação me apercebi
Estar circundado de paraísos
Abrolharam-se palcos de risos
E velozmente me robusteci
Mergulhando nos milheirais
Em miríades de bouças reais

De vastezas sobrenaturais
Fui apreciando os amiais
Também caçando pardais
Fumando barbas de milho
Cheio de medo do pecadilho.
Erguendo choças arborícolas
Fui criando tantas radiculas,
Que me tornei num terrícolas


Virou-se a alma d’avesso
Tornou-se tudo opresso
Vi-me cercado de gesso
Vivendo todo possesso
Jamais perdi o setentrião
De toda a minha afeição
Nunca deixei cair a paixão
Abriguei-a fundo no coração


Não obstante a razão dizer não
O decurso do tempo inquietação
Nunca fui tocado pela perdição
Senti sempre alta palpitação
Subitamente algo aconteceu
Foi desembuçado um casaréu
Alguém disse era um mausoléu
Vislumbrei saborido terréu

O casaréu virou um carinho
Esculpido por bom sobrinho
O baldio imutou num apogeu
Apesar de tamanho pigmeu
E nele renasceram sentidos
Aromas e paladares esquecidos
Até descortinamos pirilampos
Por entre as ervas dos campos


Esta pitónica rusticidade
Mitigou a taciturnidade
Diminui a irascibilidade
Inflamou a misticidade
Voltei a sentir-me menino
Qual milagre semidivino
Folgaz como um sanjoanino
Novamente um campesino


Frui lá bons sortilégios
Com muitos privilégios
Mas no voltear da vida
Às vezes ela é malquerida
Convida a tomar pírtiga
E por quanta vez obriga
A cometer sacrilégio
Entregá-la ao novo régio


JP

Mar/2014