quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Manuela


Amor


A sorrir acordei um dia
A ela todo lho devia
Tínhamos bailado Manuela.
Tudo era uma aguarela

Recordo ainda saudoso
Esse momento prazeroso
Foram os primeiros beijos
Seguiram-se outros cortejos
Foi no meio de um castelo
E estava tudo tão belo

Bendizendo a tal sina
Abençoado pela menina
Fui cantando alegria
Crescendo minha euforia

Nem sabia o que fazer
Dava-me tanto prazer
Não só de estar a viver
Como lhe poder dizer
Amor tu és o meu ser

Fui gerando afeição
Conheci-a melhor então
Mirando sua natureza
Vi ainda maior beleza

Relembro passeios imensos
Sempre de mão na mão
Foram assim tão intensos
Que fadaram meu coração

Vi-a um dia no altar
Levada por meu irmão
Nem queria acreditar
Parecia uma visão
Do paraíso pois então

Em amplexo nos envolvemos
Em paixão nos atolamos
E diante de tanta profusão
Houve sublime floração

  Eis-nos chegados ao Outono
Muito perto da vindima
Mas ainda cheios de estima
Sem nada em desabono
E sempre em concertina

É ainda de mão na mão
Que mostra cirurgia
Aceita a limitação
Deixando-nos com afasia

E já avelada a folha
Sem ter grande escolha
Prós filhotes adoração
Aos amigos quanta afeição
Á mãe total consagração
Á neta suprema namoração
Tudo com sublime devoção

  JP

2014.01

Acrescido um verso na última estrofe pouco depois da Carminho ter nascido 


Ferrete

Ferrete

A dor é no peito
Julgo que a rejeito
Minguado feito
Nunca meu proveito

Tornou-se parte de mim
Que então fazer? Enfim
Traz-me sempre assim
Sou triste sem confim

E nem as coisas bonitas
As que me dão frenesim
Apagam velhas desditas
E chegam a bom fim

Passo tempos infinitos
Crendo que se desraizou
Mas aos mínimos atritos
Logo tudo se reavivou

Olvido que se aperrou
Lá bem fundo no coração
Onde a melancolia se agarrou
Ao todo da minha lapidação

Sou portanto prisioneiro
Do meu ente com defeito
Não consigo ser brejeiro
Sendo assim daquele jeito 

JP

 2014.01

sábado, 18 de janeiro de 2014

Mãe



Mãe

Logo novo devastado quedei
Agrilhoado às amarras da vida
Entontecido então me mostrei
E diante de tanto sofrer
Não tive tempo sequer
De preparar uma guarida

Dei por mim amarfanhado
Num mundo inapreciado
Perdi-me no emaranhado
Do entrelaçar dos caminhos
Voltei – me prós amigos
Fortalecido nos sentidos

Mas lá bem no coração
Algo não fazia zunido
Tudo estava desprovido
Nada mexia comigo
Faltava-me a sensação
O conchego do abrigo

Alento do meu parente
Era bom mas diferente
Confortava a emoção
Não calava a comoção
Tentava ser valente
Mas doía ver em frente

Chorava então no recanto
Mesmo adulto envergonhado
Derramava as minhas lágrimas
Pra dentro do meu canto
De manhã quando acordava
Tudo ainda me revoltava

Afinal era verdade
Já nada me sossegava
Tudo me martirizava
Minha mãe tinha partido
Deixando-me com fealdade
Mas com muita saudade

E nem a morte te afastou de mim

Jan/2014
JP