segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Ao Meu Pai



 Pai


Sabes,
Às vezes esqueço-me de ti
E deixo de te falar daqui
Foste meu herói juvenil
E isso não é nada gentil

Recordo com devoção
Invade-me a emoção
Tua arribada diária
Jornal sobre o braço
Em romaria corria
Colhia terno abraço

Pela tua mão me levaste
Ao futebol tua paixão
Muito caro pagaste
Essa tua inclinação
Mas hoje nessa afeição
 Serias uma fascinação

Mas, Pai, ficou a veneração
Uma acertada instrução
Creio que boa formação
Excelente aproximação

Não obstante o traço
Achei-te algo inconstante
Mas em nenhum instante
Questionei o teu regaço

Sei também que sofrias
De algumas agonias
Desconhecia suas origens
Em meio não as entendia
Hoje estou em sincronia
Mesmo nas suas clivagens

Ocorreu aquele horror
Perdido o grande amor
Lobriguei teu vasto agror
Mas tão logo se divinizou
Sabes muito melhor que eu
Que tudo se relativizou

Perdoa então este filisteu
Que sempre te reconheceu
Como um bom androceu
Apenas ainda não se livrou
De sua incessante atrição
Jamais da tua depreciação
Pois sempre te idolatrou


JP-2014/Fev





quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Portugal



Meu Portugal


Nasci em País certinho
E muito arrumadinho
Tudo parecia comezinho
Marchando devagarzinho

Nesta doce modorra
Embalado na masmorra
Menino era com honra
Mas inda com pichorra

Regido por Salazar
Que mandava rezar
Ao pobre conformar
A muitos não educar
Mil e um a emigrar
E a alguns silenciar

Tudo era uma boa farsa
Tudo era bem amorado
Quem mais era comparsa
Demais era enriquecido

Dei conta deste pantanal
Adolescente temperamental
Foi preciso guerra colonial
Pra me compenetrar de tal

Mas essa nação bajulatória
De súbito emancipatória,
Tornou-se laboratorial
Ao primeiro vacilatorial

Eclodiram os capitães
Aos primeiros vendavais
De seguida os generais 
Ao seu lado charlatães

Eis então os comunistas
Colados os oportunistas
Sucederam-se os exilados
E os recentes colonizados
Ulceraram este universo
Já bastante controverso

Milagre apregoam
As patuléias aproam
Eram Zeus a predizê-lo
Com o máximo repelo

De Carnaval em Carnaval
Fomos todos mascarando
Que mesmo sendo bandeiral
O melhor era ir assobiando

Transformado em vinagre
O tal refulgente milagre
Serve só os inconfiáveis
Com leis algo descartáveis

Achegam-se os corruptos
Afastam os consternados
Elites são banqueteadas
Afinal por meros putos
Todos mancomunados
Em miras abetumadas

Vagimos a desilusão
De tão soez actuação
A sem vergonha peçonha
Que sendo tão medonha
Nos mantem inda cediços
Em torpores algo mortiços

E nem mesmo mesmo agora
Que entra pelos olhos fora
E sempre foi doutrora
É reiteradamente o ruão
Que suporta com o gavião
Sem que surja uma rebelião

Há farta exasperação
Crê-se inda na socialização
Mas se não for o povão
Não serão os cabalistas
Jamais os neoliberalistas
Ou mesmo os esquerdistas
Que nos trarão conquistas
Nos libertarão

JP

2014/Fev

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Amarguras




Olhar Amigo


Ao primeiro olhar
Foi sempre a bulhar
De calças de cotim
Só mesmo o “Valentim”

Apesar de ser assim
Estabelecemos afim
Jogamos ao futebol
Ora nosso bom farol
Brincamos ao bugalho
Abrigados no agasalho
Divertimo-nos às sameiras
Com muito boas maneiras

Seguimos outros caminhos
Pouco nos vimos
Perdemo-nos assim
Achamos um bom fim

Nas voltas dos moinhos
Cruzaram-se novos destinos
Reunidos pela emigração
Cultivamos interacção
Unimo-nos na decisão
A partir desde então

Já sem malquerenças
Mas com diferenças
Mantivemo-nos em função
Ora com tanta emoção

Achadas as redimas
Ora juntos pelas estimas
Mas de novo afastados
Eis-nos quase mondados
Logo mais ajuizados
E já muito aplacados

Surgiu um furacão
E logo de supetão
Devastou-te um tufão
Traçou-te o coração

Sinto a tua disfonia
E que grande agonia
Avalio quanto sofres
E que quase morres
Vejo tuas fulgurações
Não te dão suavizações

Mas estou em sintonia
Com toda a tua invernia
Tens a minha compreensão
Com imensa turbação

Inexiste remédio pra te dar
A forma única salutar
É estacar o indignar
É aceitar. É conformar

Parco consolo eu sei
Mas então sabei
Também me revoltei
Só me imperfeiçoei

JP



2014//Fev








Regresso



Regresso

Infindável tristura me agoniava
No vazio a alma se arrojava
Mas irrompendo d’aldrava
Janela de luz me cortejava

Atraiu-me as emoções
Causou-me sensações
Concedeu-me as poções
Regressei aos tropeções

Primeiro titubeante
Depois mais confiante
Mas ainda cruciante
Finalmente delirante

Irradiava ventura sumida
Numa época entumecida
Mas agora muito querida
E desde há muito sentida

Achara na senhorinha
Aquela alma sozinha
Que tal como a minha
Amor a mais detinha

Uni-me com fervor
Cantando um louvor
Para aquele SENHOR
Que me expurgou a dor

Dei por mim a cantarolar
Tudo certo estava a dar
Já não era só a sonhar
Era finalmente o espertar


JP


2014/fev