segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Amigos Eternos



Eternidades

I

Seu nome era Valdemar
Colega e aluno doutrinal
Dei com ele no alto mar
Encarpelado pelo mal

Confessa-me sua volição
Já mui arrependido então
Incrédulo pela relatação
Ainda tentei mas em vão
Que lhe provessem uma mão

Doou-nos suas abordagens
Seguiu para outras viagens
Decerto com mil vantagens
Deixando muitas friagens

II

Houve também o Lopes
Colega e aluno singular
Sempre de alma a sangrar
Nunca achou onde aportar

Desapareceu além-mar
Regressou para assentar
Compareceu ao altar
Mas não chegou a atracar

Retornado à sua origem
Perseguiu alta miragem
No mundo de libertinagem
Sem lobrigar ancoragem
Deixando porém boa imagem

III

Surgiu também o Inácio
Comunista mui humanista
Construiu em si um palácio
Esculpido como harmonista

Iluminou-o de sabedorias
Adereçou-o de benfeitorias
Emoldurou-o de alegorias
De imensas e belas iguarias

Mestre de mil formoseados
Inda hoje muito ilustrados
Cedo apercebeu sua ida
Sem qualquer raiva contida
Foi-se sem uma despedida
Deixando-me a alma fendida


IV

Chegou ainda o Carlos
Conhecido por Romão
Era uma alta distinção
Em multi polivalências
Nunca dizendo não
Mesmo às prepotências

Se foi prematuramente
Recusando ternamente
E muito calmamente
Cuidar da sua fronte
Pra não estar ausente
No agente. Assiduamente
Deixando-me horrente

V
Ainda existiu outro Lopes
Seus peitos eram dos Santos
Abusando de seus quebrantos
Questionaram seus afeitos
Jogaram-lhe com confeitos

Roubaram-lhe o remanso
Fazendo-o passar por tanso
Quando era apenas manso

Sofrendo como um servil frade
Desígnio da sua bondade
Exibiu sempre simplicidade
A todos oferecia amizade
Devotando generosidade
Deixando-me eterna saudade

 VI

Surdiu um tal Senhor Brás
Foi um amigo de cartaz
Como meu patrão um ás
Só que um tal de Ferraz
Todo ele infiel capataz
Encordoou este cabaz

Perdemos as estimas
Metemo-nos em esgrimas
Fomos triviais vítimas
De nossas próprias frimas

Esquecendo as ateimas
Logramos novas enzimas
Mas já sem tempo pra rimas
Deixou-nos de almas vazias

VII

Fulgiu também o Carvalho
Era o Hélder no seu trabalho
Abrigo das minhas dúvidas
Alentou-me as desprazidas
Humorando com lambidas
Todas as minhas feridas

Olvidando seus desprazeres
Libertou-se dos afazeres
E purgado de malquereres
Resgatou suas filosofias
Amoldou-as aos seus lemas
E deixou-nos com dilemas

VIII

Existiu também o Luís
Que só pra me fazer feliz
Azul e branco foi por um triz
Demostrando seu belo cariz

Foi-se com muita sobriedade
Decerto incontendo na ementa
Quão intensa era a fatalidade
 Com que legava sua tormenta

 Estávamos no início das estimas
Já com várias e boas arrimas
Mas uma vez colhidas as vindimas
Deixou-me sem apetência de rimas

IX

Apareceu-me o Canedo
Homem sem medo
De farta inteligência
E repleto de paciência

Tarde soube sua partida
Não houve então despedida
Quedou-me arrependido
E deveras compungido

X

No noivado do Amial
Conheci um Horta jovial
Tratou-me tão bacanal
Pra sempre foi amical

Não mais inolvidei
Quem reparou em mim
Fez-me sentir rei
Inda era benjamim

Não se ficou por aqui
Tão logo lhe pedi
Acedeu ao desejo
Concedeu-me almejo

Foi meu almirante
Pondo sempre diante
Crença gratificante
Sustendo aliciante

Cercearam-lhe o destino
Talvez perdido o tino
Terminou esquecido
Por tanto desagradecido
  
Na sua última viagem
Já sem fina linhagem
Foi-se um bom amigo
Quedando-me mais mendigo


XI

              Irrefragável dama
              Emília era a chama
              Sorria pras almas
                Até pras mais infamas

               Sua postura apurada
Manteve-se imaculável
   Perante facto censurável
      Sorria meiga não abrumada

Inopinamente feneceu
Foi quem mais se pareceu
Ao jeito de minha mãe estar
Eleita para me levar ao altar
Nunca declinarei seu recordar


XII

Existiu também o Edgar
Ao início só pra gozar
Pois era um acriançar
Agarrado ao meu bazar

Meti-me por outro atalho
Esqueci-me do pirralho
Agindo como paspalho
Foi mesmo um enxovalho

Fugazmente o encontrei
Mesmo aí jamais me dei
Glosei-o com tontarias
Nessas curtas cantarias

Nos torvelinhos das vidas
Entrou-me portas adentro
Ignorava suas doídas
Deu-se insigne reencontro

Achegou-se logo a mim
Permitiu-me com afim
Redimir-me em frenesim,
Ofereci-lhe meu jardim

 Contemplei sua revivescência
Com muita efervescência
Acreditei mesmo na servência
Da minha saudável valência

Amodorrou-se em sono de ouro
Caiu sonhando com o Douro
Perdi um amigo duradouro
Quando já havia um tesouro
Deixando-me deveras morredouro


JP

  

2014/Dezembro –versão completa

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