O Senhor António
Tantas
Nem sei quantas
Por ti passei
Olhar fugidio
Fingi que não vi
Mas algo reti
Coisa diferente em ti
Por segundos atentei
Tão logo me esgueirei
Aqui e ali
Tua imagem não bani
Não a absorvi
Nem a extingui
Nem me envolvi
De súbito entendi
Postura a que assisti
Teu olhar que depreendi
Desta feita vi
Um náufrago ali
Te questionei
Em teus olhos desolados
Li as sangrias
O desespero que sentias
As injustiças que rangias
As impotências frias
E como te doías
Golpes cortantes
De ventos cruentes
Fustigado e vergado
Na lama jorrado
Lambias feridas
Ciciando agonias
Energias
Detinhas
Não te torcias
Reagias
Orgulho sustinhas
Não te rendias
Pois
As cepas das tuas vinhas
Mondadas de folhas e ramos
Podadas dos engaços
e cachos
Ainda contém os viços
Crês no brotar dos rebentos
Promessa de primavera
Que o eminente mortório
A torna numa quimera.
Implacável o tempo passa.
JP/Out/Nov/Dez2024
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