sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O Senhor António

 



O Senhor António


Tantas

Nem sei quantas

Por ti passei

Olhar fugidio

Fingi que não vi

Mas algo reti

Coisa diferente em ti 

Por segundos atentei 

Tão logo me esgueirei


Aqui e ali

Tua imagem não bani

Não a absorvi

Nem a extingui

Nem me envolvi


De súbito entendi 

Postura a que assisti

Teu olhar que depreendi

Desta feita vi

Um náufrago ali


Te questionei 

Em teus olhos desolados

Li as sangrias

O desespero que sentias

As injustiças que rangias 

As impotências frias

E como te doías


Golpes  cortantes

De ventos cruentes 

Fustigado e vergado

Na lama jorrado

Lambias feridas

Ciciando agonias


Energias

Detinhas 

Não te torcias

Reagias

Orgulho sustinhas

Não te rendias


Pois

As cepas das tuas vinhas

Mondadas de folhas e ramos

Podadas dos engaços

e cachos 

Ainda contém os viços

Crês no brotar dos rebentos

Promessa de primavera

Que o eminente mortório

A torna numa quimera.


Implacável o tempo passa.


JP/Out/Nov/Dez2024




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