quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

As Três Marias

Foi tudo. A primeira.
A luz inicial. O vislumbre do amor na ponta de um sorriso quiçá sofrido, intranquilo e já rugoso mas sempre meigo, encantador e desarmante de melancolias, azedumes e agruras. Um sorriso que afagava a alma. Era ela e dela.
Colo seguro das primárias vacilações também era ela e dela.
Era ela e dela o manjar onde era sorvido o sentido de justiça, lealdade, tolerância e respeito. Porque disso era o expoente.
A mestra também. Ensinamentos para sempre orquestrando toda uma vida.
O Cultivo da amizade. Por que ela própria era afeição.
Era tudo no meio de tantos e de tudo.
Partiu. Um dia. Mal podia crer. Um abismo de horror se abriu. Uma mágoa interminável. Relativizou-se tudo e para tudo. Ficaram os alicerces da casa.
Obra sua.

Especial também a segunda. Em oceano revolto de águas e agrestes ventanias onde hordas de  vagas fantasmagóricas assumiam proporções gigantescas foi  porto seguro. O refúgio de onde partiam uns olhos verdes faiscantes que estendiam tentáculos robustos e meigos amparando fragilidades latentes susceptíveis de naufrágio. Foi quem suturou com saber e arte feridas lacerantes conseguindo dissimulá-las de forma a que os seus vestígios disformes se tornassem menos doridos, menos angustiados e amargurados.
Partiu. Um dia. Também. Seguiu a sua caminhada. Naturalmente. Abriu-se um abismo de saudade.
Foram conseguidas e erguidas as paredes.
Obra sua.

Decisão mais acertada de toda uma vida. A terceira.
Indescritível beleza exterior. Amor, amizade e ternura desprendem-se naturalmente do seu ser propagando uma sensação de conforto, segurança e bem estar.
Uma formosura intima superadora em grau superlativo absoluto toda a magnífica visibilidade física, foi descoberta logo a seguir.
Do âmago emana uma capacidade inaudita de amar e dar. Compreender e aceitar. Perdoar e respeitar. Amparar e proteger. Para tudo e todos.
Trave mestra de toda uma família. Dedicação ilimitada. Disponibilidade e tolerância absoluta. Enseada de protecção e apoio. Privilégio do clã.
Na árdua labuta diária um sorriso aberto, imaculado e genuíno. Mesmo na dor. Na adversidade. No erro. Na limitação.
Frágil mas robusta.
Um ente extraordinário merecedor dos favores da vida pouco magnânima para com ela.
Nunca reclamando. Logo se contentando. Por amor decerto e por certo.
Muito mais do que uma grande esposa. Muito mais de que uma enorme mãe. Muito mais do que uma mulher de sonho. Um ser humano assombroso.
Um écloga tornada realidade.
Feito o telhado. Postadas janelas e portas. Inacabada. Por em constante aperfeiçoamento.
Obra sua.

JP

1 comentário:

pealmasa disse...

Gostei muito....