Inquietude
Cativa-me tudo
Nada me prende contudo
Na inutilidade de não ser
Dilui o devir e o ter
Muito conheço de mim
Mas viver é não saber de mim
É ver o outrem jardim
Ter o coração assim
Mas após o motim
Anuviado até ao fim
Um desavim
Não sei ser.Enfim
Escapa-se-me a vida
Em sorvedouro remanso
Naquele amplo lanço
Onde o rio corre manso
Já próximo do descanso
Às vezes sou diferente
Apesar da frieza rotineira
Colada à minha eira
Eu amo a brincadeira
Gosto de humor
Logro fulgor
Perfumo cor e sabor
Rendo-me à meiguice
Ao ternura do carinho
Ao suave calor do ninho.
Gosto de ser alegre
Mas baixa- me a febre
Não consigo evitá- lo
Então resvalo
Entre eras e quimeras
Ora beras ora severas
Me engelho
Mas algo haverá a fazer
Não deixar apodrecer
Salvar o que está a morrer
Vale a âncora da família
Lapidada joalharia
O afecto aos amigos
A fala do cérebro dos livros
Para nos manter vivos
JP/04/Abr/25