A CEGUEIRA EGOCENTRISTA
Na
vida o que mais existe são imperfeições.
Entre
humanos que se decepcionam uns com os outros são frequentes.
Cada ego é diferente no conteúdo e em amplitude. Estruturalmente são análogos. Operam da mesma forma. Diferem realmente e sobretudo à "superfície".
O egocentrismo atinge-nos a todos mas
cria raízes de forma desigual.
O
seu "culto" ofusca a nossa própria inteligência consciente (?) dada a forma amplificada como se posiciona.
Os egocêntricos não concebem nem sequer admitem que as suas
razões não representam todas as argumentações. Eles nem reconhecem a existência
dos fundamentos dos outros isto é; dentro da sua concepção mental são incapazes de, na sua cegueira altiva e encaroçada,
vislumbrar o senso dos outros. Independentemente da validade da sua justiça ser de facto a mais racional de todas as razões, inclusive a da prova escrita.
A razão " total" existe apenas no tribunal dos homens. E nem sempre.
E como "ter razão" é o Seu Alimento o ego possui "sempre a razão" e mais força.
Por vezes, direi mesmo em variadas circunstâncias, a falta detectada nos outros nem sequer existe. É um erro de interpretação da mente condicionada para ver inimigos e para sentir-se superior. São incapazes de fazer a distinção entre um acontecimento e a sua própria reacção a esse mesmo acontecimentos.
Os egotistas chegam ao ponto de não se aperceber, não se ralar e
até esquecer que o seu teimoso individualismo vai, directa ou indirectamente
infligir agonia, tristeza, mal estar e estresse a pessoas que lhe são caras e
consideradas e que nada tem a ver com "suas" razões parciais ou totais.
Eles não tentam sequer perceber que é proibido não tentar compreender os outros.
Orgulho
acima de tudo e por cima de todos. Eis o seu lema. Cegueira profunda. Fácil de achar nos
outros difícil de descortinar no próprio. Egos
superlativos que dentro de si acham que se alojam respostas assertivas e
exclusivas para tudo. Detentores da verdade. Auto convencidos.
Consideram-se certos e os outros errados. Mas esta forma de pensar representa um dos essenciais padrões mentais egoístas constituindo uma das principais formas de inconsciência. Incapazes de compreender que outra perspetiva ou outra história podem coexistir e até serem válidas como já acima o dizíamos.
Em vez de usarem o pensamento são dominados pelo pensamento.
Optam por estar certos do que em paz.
A
egolatria cultiva ressentimentos e mágoas pueris não hesitando em activar a
labareda mesmo quando esta já lavra. Atiça-a lançando- lhe
achas sem sentido ora com palavras, ora com escritos e ora com omissões.
É o combustível que perpetua a querela. Alimenta as feridas abertas com sentimentos mesquinhos. No calor das diferenças baixar o tom, tentar ouvir ou mesmo calar é sinal de inteligência pois reduz à nascença o calor das desavenças, tornando-as meras cinzas facilmente removíveis.
Ficar em silêncio não sendo a solução ideal é, pelo menos em determinados períodos, a escolha acertada.
Parafraseando um escritor direi que o silêncio é a linguagem de Deus o resto é uma má tradução. Logo deixem-se delas até por que uma má interpretação precipita uma péssima tradução.
Mas os egos não sossegam. Chafurdam em mágoas das quais recebem ainda mais alimento. Recrudescem os rancores. Desperdiçam tempo c/ enfados e brigas.
Destroçam e fracturam qualquer família ou grupo de amigos.
Olvidam que ressentimento é também como beber uma quantidade excessiva de álcool e esperar que o "
inimigo" fique embriagado.
O
feudo de paz que uma família deve ser contorcesse no sentido de evitar que a
maleita dela se apodere e apeçonhe todos consternando-os, causando- lhes
amarguras silenciosas, ânsias, achaques e indisposições físicas, emocionais e
espirituais. Um mal estar quase indisfarçável instala-se. Esperançosa
e estoica esta resiste. Sussurra gemidos. Range perante a insensibilidade.
Ingloriamente.
Mas os ególatras são especialistas em fazer de conta. É a sua maior da atrocidade. Agem como a gota inodora, insípida e fraca de arsénio q discreta e diariamente o
algoz versa no copo e que lenta segura e progressivamente vai corroendo e
enfraquecendo as entranhas do seu alvo. Este posicionamento irá
"cancerar" o próprio e quem os rodeia. Mês
após mês. Semana a seguir a semana. Dia atrás de dia. Subitamente, numa fatídica hora, atinge alguém mais vulnerável e mais fraco. Alguém que ao longo dos tempos chorou. Sempre. Para o seu recanto. Silenciosamente. Ora vertendo lágrimas escorrendo pela face cavando-lhe a ruga do desgosto, ora fazendo-as brotar do coração. E em muitos caos em simultaneo.
O
tempo em muitas ocasiões encarrega-se de colocar tudo em ordem só que a família já não
tem tempo. Nem ordem. Perdeu- se. Caiem então em si. E nem sempre. Mas quando tal sucede tomam consciência da pequenez das suas zangas
sem sentido, da falta de generosidade que apregoaram e do contributo irreflectido
para o acontecido. Será tarde. Remorsos
e tristezas perseguirão então os egocêntricos. Faltar-lhes-ão paz para o resto da vida.
São incapazes de entender que o seu ego foi e é um impostor deles próprios. Obviamente uma disfunção do ser humano.
Raramente os motivos que os perturbam são aqueles que pensam.
Pedir
perdão, acto difícil e que exige invulgar coragem, salvará a vida familiar.
Perdoar até pode não ser esquecer. Mas o primeiro a esquecer será o mais feliz. Pedir perdão pode até parecer humilhação. Perdão é sinónimo de não reacção e esta não é sinal de fraqueza mas sim de força. Já Jesus dizia" todo aquele que se exalta será humilhado e o que se humilha será exaltado".
Relevar é pois sinal de cura. Faz desaparecer a animosidade. Saber perdoar é substituir a dor por amor. Forma única de evitar que a família se torne um
redondel de vazios sem sentido, mal entendidos, hostilidades, azedumes e
mazelas.
Família é uma criação divina. Lugar de bem estar e de alegrias. Território revigorante e
não escalada de doença. Planície de alegrias e confraternizações. Anfiteatro
amplo e aberto a tudo o que emana da alma. Ao perdão. Á paz
própria dos corações.
Jamais
á confrontação seja ela oral, escrita ou enganadora e silenciosamente latente.
A
exculpação verdadeira a que vem do coração liberta, pois é uma ajuda de Deus.
Indulgência
vem então do fundo do coração.
Melindre
respinga da mente enganosa, orgulhosa e putosa.
Ah como seria bom se pudesse acabar com as guerras que se travam nas mentes humanas nem que fosse por uns segundos.
JP/SET/2020
Revisto em Fev/Mar 2021
E o Gustavo encomendado