A Essência do Ser
A contínua busca de
alegria
Tem mesmo muito que
se lhe diga
Sabendo ter direito à bendiga
É uma correria à sua latria
Em seu meio achamos euforias
Inebriamo-nos em volúpias
Soltamos alegres gargalhadas
Dulcificando almas danadas
Efémera como um raio
Devota-nos jubilação
Mas tal como o calafrio
Varre-nos só de faiscação
Uma vez desaparecida
Na acepção pessoal do íntimo
Apenas uma brisa agradecida
Ciranda em nosso étimo
Prazer cria laço e amigo
Mas é uma radícula fina
Turbando pulsar inimigo
Como o doente em morfina
Mas quem nos toca no ser
Bem lá nas nossas entranhas
Somente tem mesmo a ver
Com as tristuras medonhas
Vem daí o ponto de preceptoria
Para se alcançar o fundo do sacrário
E ainda que tendo direito à aprazeria
Esta não toca o cerne do relicário
Só o pesadume
amargante
Desperta o âmago do ente
E é nesse doído mirante
Atingida a essência da mente
Oriunda lá do fundo da condição
Libertação advém pós assolação
Pois até com Deus a aproximação
É feita de compunção e mortificação
É na escapula à densa nebulosa
Que se dá toda a metamorfização
Transmudando-nos do larval à mariposa
Finalizando etapas de libertação
Nesta alpestre escadaria da vida
Com fartura incerta de degraus
Cada lanço subido é uma acrescida
Aumentado o número de graus
Conquanto sofrendo várias sangrias
Nos patamares achamos guaridas
Onde nos refugiamos em aprazidas
Raramente atingindo plenas alegrias
JP/Julho/2014
Inspirado em pequeno trecho da obra literárias “O Riso de Deus” de
António Alçada Baptista